quarta-feira, 28 de março de 2018

29 de Março de 2018

Olga,

Desculpa por te escrever essa carta depois de tanto tempo, não foi fácil durante uns anos. Alguns dias eu só queria ficar bêbado escutando Bon Iver. Mas, eu hoje lembrei do teu aniversário e do quanto você ainda gosta de receber parabéns (porque certas coisas nunca mudam, eu sei). Além disso, certa vez você me disse gostar dos meus textos, eles só deviam não sofrer tanto. Você dizia isso vestindo uma camisa escrita “ Love will tear us apart”, vê se pode? A tristeza sempre foi nosso segredo em comum, Honey baby.
Quando nos conhecemos éramos tão jovens, darling, e eu era mais imaturo do que julgava ser. Você me ensinou tantas coisas que eu nunca agradeci, como a tua liberdade, como umas músicas do Red Hot que até hoje eu canto, Frusciante não ser teu sobrenome e a letra de Miss Sarajevo. Essa última parte eu nunca disse, não é? Eu escutava U2 só para te impressionar.
Não sei se eu sou o chato que não te supera e volta chamando teu nome ou se realmente algo que nos transcende nos une com força tamanha, não obstante nossos destinos diametralmente opostos. Há um certo laço entra a gente desde aquele dia quando você, inocentemente, me ensinou a fumar. Às vezes é como se ainda estivéssemos na varanda dividindo um Dunhill, o spotify tocando Come Pick Me Up e a toalha secando o teu cabelo recentemente pintado de vermelho ou cor de girassol.
São teus novos 20 e poucos anos de vida, dos quais alguns compartilhamos. E apesar de tudo eu sei que ainda estou em algum esconderijo que você fez, onde eu não podia entrar, mas você só me avisou tarde demais. Um lugar de ti onde só nós dois sabemos, onde nós ainda existimos. Duas estrelas, comprometidas com o infinito.
Foi bom te encontrar e me apaixonar, desentender, voltar, discutir Lars von Trier em um quarto de motel fumando maconha, sumir, chorar. O mundo é mau, minha Justine, mas a verdade é que eu nunca soube te odiar. Muito menos nossas escolhas. Eu só odeio DogVille e o governo Michel Temer.
Eu queria ter lições de vida para te contar, mas acontece que eu ainda continuo errando tanto, Honey. A vida adulta é tão dura às vezes que “quanto mais eu escuto o Axl cantar “Don’t cry tonight”, mais eu tenho vontade de chorar”, como você costumava dizer. Para você também tem dias que são impossíveis, eu sei. E por mais que a tragédia seja um país estrangeiro no qual não se sabe o que dizer aos nativos - como eu aprendi naquele filme -, estamos no mesmo barco e ele ainda flutua. Não se entregue nunca, Darling, porque em você There’s a light that never goes out.
Nós mudamos muito desde que você deixou a luz do sol entrar na minha vida e eu cantei Beatles para ti, mesmo você dizendo que odiava. Eu mudei de endereço, perdi o medo do escuro e comecei a ler Sartre; eu me apaixonei de novo e sei que você se apaixonou também. Eu juro que me sinto feliz por isso, assim como eu juro que tentei ver Mulholland Drive, mas eu dormi.
Eu sei, honey, que as nossas vidas se opuseram de tal forma que, certamente, não daríamos mais certo juntos, mas ainda trocaríamos mil conversas até o sol nascer. Você ainda conhece tantas músicas legais que eu ainda nem ouvi falar, tal qual eu inventei algumas outras canções que você acharia bem meia boca, mas ouviria até o final.
Sabe, eu nunca esqueci tua voz que ainda soa como um gol, no rádio, do time preferido aos 48 do segundo tempo em final de campeonato, do teu corpo branco onde eu deitaria um beijo em cada centímetro, da tua meia calça preta — que eu nem sei se ainda existe -, dos teus olhos claros, unhas longas, mamilos rosados e a franja malfeita. Nossas digitais não se apagam das vidas que tocamos. As tuas ainda estão guardadas por aqui, onde ninguém pode ver, mas onde você sabe que as deixou. Aliás, recentemente comprei um retrato de uma pintura chamada Danaë (do Klimt), porque achei tua cara. Eu a pendurei na parede atrás do notebook. Ela me lembra você dormindo e da imensidão do amor que sentíamos quando tão fragilmente expostos.
E é assim que eu te desejo Parabéns! E me orgulho, de alguma forma, pelo o que você se tornou, por você ser tão sua. Todavia, eu sei que ainda há eu em ti também, guardado.
Tu mereces esses anos e os outros milhares de anos que virão, e que você continue linda de frente, verso e avesso, como és. Some girl are Bigger than Others, baby, e você é a maior que eu já conheci. Eu amo a pessoa que você é, não esquece, ok?
Feliz Aniversário, Olga
J.
P.S: To te mandando uma cópia do retrato que eu falei.


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